BUITRES

(Comentario a una fotografia
de Kevin Carter de una niñita
desfalleciente acechada por un buitre)

Y volamos así, en círculos
engarzados en penas móviles
quitando la piel al mundo
enmascarándonos
antifaceándonos
¿alelados?
No.
Ya nada nos asombra.
Ya nada es inhumano.

Tragámonos hambres, guerras, pestes.
Sonreímos a los Jinetes.
Abrevamos Sus caballos.

Sudán es un lugar en Africa.
Sólo un lugar en un mapa.

Y esta ninã,
lo que pasa es que esta niña
tiene demasiados huesos.

(La calle mojada)

CECILIA CASTILLO
Profesora, poeta, cuentista y periodista chilena.
Nació en La Serena el 23 de abril de 1949 y vive en Iquique desde 1975. Con presencia en la literatura del norte, a pesar de sus escasas publicaciones: el poemario BOLEROS en diciembre de 1996 y el volumen de cuentos CACTAE, Mujeres del Desierto en diciembre de 2002.
Es miembro de la Sociedad de Escritores de Chile (SECH) nº. 1831, y de la Sociedad de Escritores de Tarapacá (SETA).
Publicó, entre otras obras: La calle mojada (2003).

VERITAS

Finalmente,
eu entendi.
Acho que sim.

Tem o outro lado da mesma coisa.
Tem o arremedo, o simulacro,
eu preciso acreditar em alguma coisa.

Fé, eu não tenho. Não vou negar nada,
Deus existe para muitos, não para todos.
Não há espaço para todo mundo, alguém
vai ter que
As chances são mínimas, cada vez menores,
a não ser que
ou

Às vezes enxergo o outro lado, mas não
existe o outro lado. C´est la même chose.
Eu já vi este videoclip, é padrão, já
decorei . É melhor assim. Tanto faz.
A democracia é um privilégio de poucos.

A fruta é tua, mas não existe fruta, não mais.
Nem mesmo a colheita, pois ninguém plantou.
Acredito, sim, nos valores humanos, vale a pena.
Questão de opinião, de

Se é democracia, alguém nos representa. Eu, tu, nós.
Os ladrões têm seus representantes, existem
os desenganados, os bem-aventurados. Os canalhas, os dóceis, os.
Estamos bem representados, as instituições são sólidas, ão, as.
As leis são para serem respeitadas, respeito é bom e eu mereço,
minha mãe respeitava os mandamentos, eu sou mandado.

Acho que, finalmente, eu entendi.

ANTONIO MIRANDA (1940)
Nasceu no Maranhão, Brasil. Poeta, novelista, professor universitário (Universidade de Brasilia) e atualmente diretor da Biblioteca Nacional de Brasilia. É autor de mais de trinta livros, a maioria de poemas, sendo o mais conhecido, com 12 edições, o TU PAÍS ESTÁ FELIZ, com os textos de um espetáculo que montou em Caracas, Venezuela, nos anos 1971, 1984 e 2007 com o grupo teatral RAJATABLA.
Página do autor: http://www.antoniomiranda.com.br

UM POEMA TRILÍNGUE DE ÉLVIO VARGAS

ALEGRETE

A cidade que herdei
tem rebanhos de pedra
semoventes de sombras
e um cavalo de tróia.
Negrinhos, salamandras e pastoreios
perseguidos por um rio
atiçado de vertentes
na misteriosa profecia
de suas águas
Ilhargas, hortos e casarios
quinchados de sóis poentes
Cartuns, Cartago
músicas que jamais acabam
enfeitiçando o mágico festim
dos meus brinquedos
Igrejas de torres afiadas
num céu azulado de sonho
vigiado a distância
por uma minúscula
lua de marfim.
Batizei de Alegrete
os reinos silenciosos
da cidade que inventei…

ALEGRETE

La ciudad que heredé
tiene rebanõs de piedra
semovientes de sombras
un caballo de troya.
Negritos, salamandras y pastoreos
perseguidos por un rio
atizado de vertientes
en la misteriosa profecía
de sus aguas.
Ijadas, huertos y caseríos
quinchados de sol poniente.
Cartuns, Cartago
músicas que nunca acabam
hechizando el mágico festín
de mis juguetes.
Iglesias de torres afiladas
en un cielo azulado de sueño
vigilado a la distancia
por una minúscula
luna de marfil. Bauticé de Alegrete
los reinos silenciosos
de la ciudad que inventé…

ALEGRETE

The city I inherited
has stone herds of
moving shadows
and a horse of Troy.
Black boys, salamanders
and pastures
chased by a river
stirred up by streams
in the mysterious prophecy
of its waters.
Flanks, garden and rows of houses
thatched by setting suns.
Cartuns, Cartaghe
endless songs
charming the magic feast
of my playthings.
Churches with sharp towers
against the blue of a dream sky
watched at a distance by a minuscule
ivory monn.
I batpized Alegrete
the silente kingdoms
of the city I invented…

ÉLVIO VARGAS (1951)
Nasceu em Alegrete, Rio Grande do Sul, Brasil. Escreve desde os anos sessenta, tendo publicado o seu primeiro poema em Setembro de 1969, no jornal Gazeta de Alegrete. Em 1995, dirige e edita o projeto literário A palavra escrita em Alegrete 1845-1995, retrospectiva dos 150 anos da literatura alegretense. Em 2007, é escolhido o Patrono da Feira do Livro da sua cidade natal. Publicou: O almanaque das estações (1993); Água do sonho (2006); Esparsos vargaslumes (2007).

UM TEXTO BILÍNGUE, DO ESCRITOR IMORTAL CARLOS NEJAR

CRÔNICA DE UM DESASTRE

A uma tempestade não se afaga
quando se vai por dentro.
Como se o século todo se incendiasse
e os gritos ficassem roendo
outros gritos subindo, descendo.
E ensurdecesse de dor a América,
mãe atrás dos filhos, mãe parindo
a eternidade de escombros, chuva
e areia. Mãe sozinha à beira de um rio
e do mundo. Todos os gemidos vêm
do fundo de teu poço, mãe! As chamas
não têm pátria, como as patas
deste animal no homem que, sem data,
é o ódio, o ódio, gafanhotos, vômito.
De um momento a outro, milhares
de almas se aninham, pombas na morte
sem pombal e a morte é doida
que caminha errante e não sabe onde
pousar sua cabeça. A hecatombe
come em tua mesa de ossos. E o ódio
não tem mais natureza, nem de semente
nasce. Vem das baionetas, das pilhagens
do sol, antes do meio-dia. Aviões
não são olhos, nem ouvidos
e batem, morcegos acendidos
nos corpos e destroços. Mãe-humanidade,
por que as bestas à tona vêm do homem,
quando podem tornar para as cavernas,
ou meter-se nas gavetas das estrelas
e sumir? Nenhuma falta fazem à vida,
cestas de água e nada. Mãe-humanidade,
tua dor se esvai, fumaça de almas,
ninhadas de voragens e filhotes
de escuridão chorando. Nenhuma
terra sabe falar das ruínas, por
se guardar nelas. Nenhuma mãe
ousa gravar na lápide este crime,
que o sepulcro de cinzas não resume.
E o que restou do homem?

(Nova Iorque, 11 de Setembro de 2001)

CHRONICLE OF A DISASTER

You do not caress a tempest
when you go inside it.
As if the whole century caught fire,
and the screams went gnawing
other screams rising, falling.
And America went deaf of pain,
mother after her children, mother
giving birth to an eternity of debris,
rain and sand. Mother alone at the margin
of a river and of the world. All moaning
comes from the bottom of your well,
mother! The flames have no country,
like the paws of his animal in man
that, datelesse, is hatred, hatred,
locusts, vomit. From one moment
to another, thousand of souls nestle,
doves in death without dovecote
and death is crazy, he walks errantly
and does not know where to put
its head. Hecatomb eats at your
bones table. And hatred has no more
nature no is born from a seed.
It comes from bayonets, from the
pileage of the sun, before noon. Planes
are not eyes nor ears and hit, bats
lit on bodies and debris. Mother-mankind,
why do beasts come to the surface of man
when they could go back to the cave
or be kept in the drawers of the stars
and vanish? Life does not miss them,
water baskets and nothing. Mother-mankind
your pain evolates, smoke of souls,
litter of vertigo and cubs crying
in darkness. No land can speak about
ruins, for they are kept in them.
No mother dares to print this crime
on the tombstone, crime that a
sepulcre of ashes does not sum up.
And what remains of man?

(New York, september 11, 2001)

Translated by Ildásio Tavares, poet and ficcionist.
October 5, 2001.

CARLOS NEJAR (1939)
Poeta, romancista, tradutor, crítico. Nasceu em Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul. Membro da Academia Brasileira de Letras. Apreciado pela crítica como “o poeta do pampa brasileiro” ou da “condição humana”, como bem assinalou Jacinto de Prado Coelho, usufrui de crescente reputação no estrangeiro, com poemas traduzidos em diversos idiomas e estudado nas principais universidades do Brasil e do Exterior. É considerado um dos 37 poetas chaves do século, entre 300 autores memoráveis, no período compreendido de 1890-1990, segundo ensaio do crítico suíço Gustav Siebenmann, Poesía y Poéticas del Siglo XX en la América Hispana y el Brasil (Ed. Gredos, Madri, 1997). Figura como uma voz emblemática e universal, de original e abundante produção lírica. A publicação, Quarterly Review of Literature, de Princeton, New Jersey (EUA), em seu cinquentenário, acabou escolhendo o poeta como um dos grandes escritores da atualidade. Único representante brasileiro indicado pela influente revista americana, é colocado no mesmo patamar do espanhol Rafael Alberti e do francês Yves Bonnefoy, entre cinquenta autores selecionados.

CÂNTICO

âmago
ser libertino
mescla-se com líquido
em manhoso êxtase
o deleite compassa o desatino
tatuo um poema no seu dorso
manifesto silente de mistérios
a madrugada estimula tramas
estrelas brincam no espelho d’alma
orvalho
o paladar do amanhecer
são versos
em papiro imaculado

José Geraldo Neres é poeta, ficcionista e roteirista. Publicou: Pássaros de papel (2007), Outros Silêncios (2009, realizado com o apoio da Fundação Biblioteca Nacional e do ProAC) e Olhos de barro (2010, menção especial na 3ª edição do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura).

DEUSES E MITOS

Bilhões de auroras foram necessárias
Até que o fogo se fizesse lava,
Até que a lava se fizesse pedra,
Até que a pedra se fizesse Terra.

Bilhões de auroras foram necessárias
Até que os brutos se tornassem homens,
Até que os homens se tornassem anjos,
Até que os anjos se tornassem Deuses.

Bilhões de auroras foram necessárias
Até que os homens inventassem mitos,
Até que os mitos constituíssem fé.

Contudo apenas uma aurora basta
Para que os homens, finalmente homens,
Cancelem mitos e estraçalhem Deuses.

(Lua ó)

Gastão Torres
Poeta nascido em Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, Brasil.

“FERA” DO LIVRO

Goethe. Passo.
Kant, quem sabe.
Perambulo atônito pelos clássicos.
No fim, levo O Pequeno Príncipe.
A criança que vive em mim
Reinventa, todos os anos,
Seu eterno reinado.

ALEXANDRE LETTNER
Poeta, compositor e músico. Foi baixista, nos anos 1990, das bandas de rock Plataforma Ocidente, Os Laras, Arraia Miúda e Tape Deck. Participou, em novembro de 2007,
do projeto 24 Horas de Poesia. Participou do 10° Festival de Música de Porto Alegre. Em 2008 participou do Concurso Cantigário de Letras de Música e Textos de MPB.
Em 2010 publicou juntamente com o poeta Elroucian Motta o livro Sem palavras.

QUIZÁS NO SUPE CONQUISTAR, por Felipe Lamadrid

Quizás no supe conquistar
de lejos la confianza.
De buscar entre mis manos
el refugio de la noche
Heredera del pasado.
Creadora del presente.
Con aullidos de gatos noctàmbulos
Rituales
Que el viento les hace navegar sin rumbo.
A los ojos que se embriagan de la obscuridad
para encontrar su mástil y su aliento.

(Soñar con un perfil de lobo, 2000)

Felipe Lamadrid (1953)
Nació en El Puerto de Santa María, Cádiz, España. Poeta, grabador, pintor, escultor, profesor. Colaborador de revistas y periódicos, creador de talleres de grabado en el Centro Galileo en Madrid y en la Universidad de Cádiz. Integrante de coletivos como La Voz Gráfica, artista plásticos de la Comunidad de Madrid. Miembro da la Asociación de Pintores y Escultores Españoles. Es autor de los libros: “Verso de otoño”, “Color en calma”, “Génesis”, “Crucifixión”, “La pluma y otros escritos”, “Soñar con un perfil de lobo”.

Blog: http://felipelamadridgrabados.blogspot.com

DE QUE VALE O REINO

Exíguo é o corpo
onde instauro o poema

Devassada sinto-lhe a permanência
o salto frustrado
o verso em pânico

Ávidos
o matamos
na luta pela posse
onde inventamos as leis
e detemos o patrimônio

Nessa guerra
agressivos
geramos nossos filhos:
— A mão oclusa
acionando gatilhos

Da fera
visíveis se mostram os delitos
o oculto bote
os enigmas

Em vão forjei coisas maiores
e deixei o amor crescer
entre um verso e outro

Há trinta e nove anos
assisto os mesmos crimes
o silêncio crestando a fala

De que vale o reino
com seus pomos de usura
e a loucura dos gumes

De que vale o reino
e sua espada
o viço da bandeira
as honrarias
se poucos são os convivas
junto à mesa

César Pereira (1934)
Nasceu em Taquari, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Poeta, contista, cronista. Pertence à Academia Riograndense de Letras. Foi o lançador da Poesia Concreta no Rio Grande do Sul em 1958, e em 1965 da Poesia Visual, sendo um dos precursores no País. Conquistou em 1986, o 1º lugar no Concurso Nacional de Poesia PETROBRÁS, na época um dos maiores do Brasil. Publicou: Carrossel de cinzas (1960); Dardos de ajuste (1974); Porta de emergência (1989); Gaveta de achados (2008).

TARDE

Dejen verme sentado
en este banco de plaza
con un libro faldero
buscando los modos
espinosos,
las sombras,
una clave memoranda
tratando mi lugar.

Dejen bajar ese gorrión apurado
que me interrumpe,
risas de chicos desde las hamacas,
el taconear de pasos antiguos,
la voz sonante del vendedor de globos
y mi madre peinándome a la gomina.

No me distraigan de Borges.

Más allá del cordón pasan camiones
con mercancías,
los bocinazos se atropellan,
la vieja calesita a sangre deja oír una ranchera
y los labradores sacan a pasear a las señoras
y los bastones acompañan a los jubilados
y los barriletes remontan a los felices.
Ese cascarudo que se revuelca en la hojarasca
no me deja concentrar,
las hojas bordó del ciprés cubrieron la playa
aunque la sinfonía de metáforas sigue oculta
en el caminito de las hormigas.

Déjenme abandonar “El libro de arena”
en el banco.
Alguien vendrá a retomar aquel pasado
y lo que sigue,
alguien vendrá desde aquella época
a ver esta tierna unidad del infinito
y ese incesante tránsito
de mercancías
por la calzada
…desfilando…

Déjenme ir.

Juan Disante – Buenos Aires – Argentina
Blog: http://www.juandisante.blogspot.com